quinta-feira, 26 de maio de 2016


Caminhos para a formação de leitores



Treze milhões de brasileiros não sabem ler e escrever. O número representa 8,7% da população acima de 15 anos. Pessoas que conhecem letras e números, mas não conseguem ler ou fazer contas são chamadas de analfabetas funcionais. Uma pesquisa mostra que esta é a condição de 27% dos adultos brasileiros.


 A UNESCO completa o conceito da analfabetismo da seguinte forma:
 "Uma pessoa funcionalmente analfabeta é aquela que não pode participar de todas as atividades nas quais a alfabetização é requerida para uma atuação eficaz em seu grupo e comunidade, e lhe permitem, também, continuar usando a leitura, a escrita e o cálculo a serviço do seu próprio desenvolvimento e do desenvolvimento de sua comunidade".

Ninguém nasce leitor, assim como aprendemos a falar,caminhar,escrever, ler, também nos tornamos leitores. Os pais teoricamente seriam facilitadores no processo formativo do leitor, porém se ainda não são leitores nem tudo está perdido. O sujeito leitor precisa ser acordado através do encanto e do prazer que leitura proporciona. Como fazer isso?  Como formar leitores de fato?
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O texto "O desafio de se formar leitores" de Andréa Andrade Siqueira de Resende, traz pontos essenciais  no que diz respeito a  formação de leitores:

O ato de ler
Ler é uma atividade complexa, pessoal,subjetiva, que não pode ser estudada apenas com a observação, porque depende de um conjunto  de atitudes internas, cognitivas e mentais, que não se mostram aos nossos olhos.
O sujeito que lê se apoia em dois tipos de informações:
1)o registro gráfico no papel,com as informações que autor lhe oferece;
2)as informações que ele tem disponíveis  em sua mente, em sua estrutura cognitiva, decorrentes do seu conhecimento de mundo.

A esse segundo tipo de informação dá-se o nome de "conhecimentos prévios" . Podemos concluir, portanto, que "ler" é uma construção ativa,em que o leitor aciona as informações não visuais que possui em sua estrutura cognitiva ao entrar em contato com o texto no qual produzirá sentido. A interlocução linguística mediada pela linguagem escrita requer, sem dúvida, a participação ativa do leitor.
 
O processo de produção de sentido em um texto
 Considerações importantes:

  1.  O significado de uma parte do texto não é autônomo, mas depende das outras  com que se relaciona.
  2. O significado global do texto não é o resultado da mera soma de suas partes, mas de uma certa combinação geradora de sentido, de múltiplas relações que se estabelecem entre as partes.
  3. "Contexto" é a unidade maior em que uma menor está inserida. Uma frase pode ter sentidos diversos dependendo do contexto em que está inserida. O contexto pode ser explícito, quando é expresso por palavras, ou implícito, quando está embutido na situação em que o texto é produzido.
  4. Todo texto é produzido  por um sujeito, num determinado tempo e num determinado espaço. Esse sujeito, por pertencer a  um grupo social num tempo e num espaço, expõe em seus textos as suas ideias, anseios, temores, as expectativas de seu tempo e de seu grupo  social.(...). Cada período histórico apresenta para as  pessoas certos problemas, e os textos  pronunciam-se sobre  eles. É o fato de vivermos em um mesmo contexto histórico que permite compartilhar-mos os conhecimentos, valores e crenças necessários à compreensão dos textos contemporâneos que lemos.
  5. As circunstâncias  em que acontece o uso da língua, ou seja, a situação de comunicação, é que permitem aos interlocutores (autor/leitor; falante/ouvinte)  compartilharem as informações e conhecimento necessários à atribuição de sentido do texto.  Quando se trata  de um texto escrito, o suporte do texto - revista, jornal, livro - desempenha a função de "partilha" de informações". No caso  de comunicação oral, esse papel fica por conta dos elementos do ambiente em que a situação de comunicação acontece.
  6. Os interlocutores (falante/ouvinte; autor/leitor), ou seja, os participantes de uma interação verbal, ao entrarem no processo interlocutivo, utilizam  os conhecimentos prévios de  dispõe, não apenas sobre a língua mas também sobre o mundo. (...). Dessa forma, produzem textos diferentes de acordo com a intenção que possuem numa dada situação. (...). Os textos produzidos são diferentes, por exemplo, quando damos uma ordem ou vamos pedir algo; quando nos dirigimos  a um superior ou a uma subalterno; quando queremos ofender ou conquistar alguém.
  7. O sentido de um texto depende  de outros fatores, além das palavras e da organização da língua.
  8. Quando estruturamos gramaticalmente as frases da nossa língua, não conseguimos garantir uma unicidade de sentido. Há múltiplas possibilidades de interpretação.



 Mas, afinal... o que é ser um bom leitor?

(...) A escrita presente no cotidiano das pessoas, em extratos bancários, contas, folhetos, anúncios de TV etc, é chamada "escrita social".Essa escrita, com seus caracteres e funções diferentes, propicia leituras diversificadas.
Um bom leitor é aquele que desenvolve diferentes processos e estratégias, de acordo com a situação e objetivo da leitura. O interesse nas informações e o objetivo pretendido vão determinar o tipo de leitura que se faz(...)
 (...) Essa flexibilidade no ato de ler  se refere à possibilidade de utilização  de mais de uma estratégia de leitura, visando atender melhor os objetivos de leitura  diante de diferentes gêneros de textos.
Uma condição  fundamental de leitura é o conhecimento prévio. A relação entre o que o leitor já sabe, já possui em sua estrutura cognitiva, e o "novo" é determinada o processo que ele vai usar.
 
Existem basicamente dois processos de leitura:
o ascendente( ou composicional);
o descendente.

 o processo ascendente - o leitor lê não só o geral ou amplo, mas vai "compondo" o sentido lentamente, no nível dos sintagmas e, finalmente, faz síntese, uma junção. Nesse processo, o leitor se apoia basicamente na informação visual;a direção que segue é da forma para o significado, da parte para o todo.

o processo descendente - o leitor já possui um conhecimento prévio acerca do que vai ler. Com esse processo, trabalha-se mais no nível do texto e não do sintagma.
O  leitor faz associações, analogias, levanta , nega ou confirma hipóteses. Usa-se pouco a forma (informação visual) e mais o conhecimento prévio. Aprende-se o sentido global antes das partes.

Estratégias de leitura

Estratégias são decisões tomadas de acordo  com o objetivo da leitura:

buscar informação-  informar-se sobre o assunto  a ser tratado em seu diferentes aspectos.
consultar - estabelecer uma estratégia de seleção da fonte, anotação, consulta ao dicionário, internet...
agir- ler uma receita de bolo para executá-la;  escrever uma carta o bilhete como um elo comunicação com entre o comunicador e o receptor.
ler- conhecer diferentes tipos gêneros textuais: narração,descrição, dissertação, injunção... / quanto ao suporte: textos de jornais, revistas, livros didáticos, literários, manuais de instrução,bulas de remédio etc./quanto a função: textos com a função de informar, de orientar(como os manuais de instrução)/quanto ao público leitor: faixas etárias,diferentes camadas sociais.

Referência: revista Presença Pedagógica.



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